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'Namoro de corte': eles só vão se beijar no altar e explicam por quê

Samuel e Gisele se conheceram em 2023 em uma igreja evangélica de Goiás (GO) - Aquivo Pessoal
Samuel e Gisele se conheceram em 2023 em uma igreja evangélica de Goiás (GO) Imagem: Aquivo Pessoal
do UOL

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

09/06/2025 05h30

Um casal de noivos de Goiânia decidiu viver um relacionamento pautado pela abstinência física. Nada de beijos e carícias, e abraços não podem ser prolongados — tudo em nome da fé e da preparação espiritual para o casamento.

O que aconteceu

O casal vem ganhando atenção nas redes sociais por viver um namoro cristão sem beijos ou carícias físicas. Eles seguem a doutrina conhecida como "namoro de corte", que defende a abstinência antes do casamento com base em princípios de "fé, propósito e santidade".

Ambos são membros da igreja evangélica Emaús e moram em Goiânia - cada um em seu lar. Gisele Campos Martins, 23, é psicóloga clínica com foco em atendimentos a mulheres; e Samuel Silveira Matias de Camargo, 27, é líder religioso em formação e atua na área de comportamento humano.

No Instagram, o perfil "Gi & Sam, Relacionamento em Santidade" reúne mais de 3,5 mil seguidores interessados na jornada do casal até o altar. Nele, o casal compartilha reflexões espirituais, bastidores da rotina e desafios do namoro sem contato físico.

Gisele e Samuel se conheceram na própria igreja, quando ele a viu de longe e decidiu se aproximar pelas redes sociais. Descobriu de qual grupo ela participava e iniciou uma conversa intencional. "Logo ele me chamou para conversar, e a gente começou a se relacionar", conta Gisele. O primeiro contato foi em junho, e o namoro começou em setembro de 2023.

A escolha de viver um relacionamento sem beijos partiu de convicções religiosas. Para Gisele e Samuel, o modelo tradicional de namoro, com contato físico e intimidade progressiva, não encontra base nas escrituras. "Na palavra de Deus, não existe o namoro como a gente conhece hoje. Isso é uma construção moderna", afirma ele.

A decisão de não se beijarem foi tomada em conjunto, ainda no início da relação. Samuel afirma que o gesto tem um sentido espiritual claro: "Não fazemos isso no sentido de sacrifício, mas para glorificar a Deus. Até no namoro, nossas atitudes podem dar testemunho de Cristo".

Antes de se conhecerem, os dois já haviam vivido outros relacionamentos. Gisele conta que já namorou e que isso mudou sua visão sobre compromisso: "Quando um homem se abstém, ele mostra ainda mais compromisso com a mulher. Isso me fez amá-lo ainda mais". Samuel relata que teve experiências afetivas na adolescência e até outro namoro em que já havia adotado o modelo sem beijos.

Desejo, limites e disciplina

O casal acredita que o beijo pode desencadear impulsos que não desejam alimentar. "O beijo não foi feito para terminar no beijo", opina Samuel. "Se eu não posso suprir o desejo, também não devo alimentá-lo." Para ilustrar, ele usa uma metáfora:

Da mesma forma que sei que o ferro ligado esquenta, sei que o beijo acende algo. Então me abstenho.

Eles afirmam haver atração física, mas que lidam com ela de forma prática e planejada. "Tem dia que a gente percebe que está mais 'atacado'. Então evita ficar sozinho, ou até se afasta de forma bem intencional mesmo", explica Gisele. Samuel completa: "Não é a oração que muda os hormônios. É o autocontrole que evita o pecado".

Para conter o desejo, tomam banho gelado, leem a Bíblia, fazem exercícios e se afastam um do outro. Samuel diz que até encerra encontros quando sente que ou do ponto. "Diversas vezes falei: já deu por hoje. A gente não pode ficar junto porque 'esquentou' as coisas. Então, tchau. Vou para o meu canto, você vai para o seu".

Para justificar sua atitude, ele cita a história de José, na Bíblia, como exemplo a seguir. "Quando a mulher de Potifar se insinuou, ele saiu correndo. A Bíblia diz que ela ficou com a roupa dele na mão. Diante da tentação, o que a gente faz? A gente foge".

Para conter o desejo: Bíblia, exercícios e cada um para o seu canto - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Para conter o desejo: Bíblia, exercícios e cada um para o seu canto
Imagem: Arquivo Pessoal

Fé, psicologia e submissão

A psicologia não se opõe à decisão, segundo Gisele, que é terapeuta e palestrante. "Sou um indivíduo com as minhas próprias escolhas. Trato pessoas, não conceitos. A psicologia não anula minha fé nem meu posicionamento pessoal".

Ela conta que costuma aconselhar outras mulheres a considerar o mesmo caminho. "Sempre digo que precisa ser algo orado, direcionado por Deus. Mas gosto muito dessa forma de viver o namoro e, se puder, vou indicar sim".

Enquanto Gisele compartilha sua escolha com outras mulheres, Samuel também busca esclarecer o papel do homem e da mulher na visão cristã de relacionamento. Questionado sobre submissão feminina e machismo, Samuel faz distinções claras. "A mulher é submissa ao marido, não ao namorado. E o marido, segundo a Bíblia, deve amá-la ao ponto de dar a vida por ela. Isso é reciprocidade, não opressão".

Para ele, ser conservador é preservar princípios, não justificar abusos. "Ser conservador não é um problema. O problema é quando distorcem isso para controlar, humilhar ou agredir. Isso é antibíblico".

Samuel diz que o namoro cristão deve ter propósito e responsabilidade. "Se um cristão não pretende casar, está defraudando o outro. Está sendo um verdadeiro sacana".

Essa convicção se reflete nos próprios planos do casal, que caminham com firmeza rumo ao casamento. Eles estão noivos desde o primeiro semestre de 2024. O casamento está marcado para o dia 12 de julho. "Já temos onde morar, tudo planejado e construído", dizem.

Para o casal, o namoro sem beijos é apenas uma etapa de um plano maior. "Acreditamos que um relacionamento precisa ter propósito, compromisso — para que um não defraude o outro", diz Gisele. "Nosso maior sonho é que a nossa família honre ao Senhor. Que Ele seja o centro de tudo", completa Samuel.

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