Morte de jovem em festa junina: Castro afasta responsáveis no Bope

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), determinou o afastamento imediato dos responsáveis pela operação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) em uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, na zona sul. Herus Guimarães Mendes, 24, morreu e outras cinco pessoas ficaram feridas.
O que aconteceu
O governador afirmou na tarde de hoje que as investigações serão feitas pela Polícia Civil e a Corregedoria Interna da PM. "A ordem é que as apurações sejam feitas com extremo rigor e com agilidade", disse em postagem no X, antigo Twitter.
Castro disse que todas as imagens do evento - gravadas pelas câmeras corporais dos policiais - serão disponibilizadas. "Me solidarizo com os familiares e amigos do jovem Herus Guimarães Mendes e das outras vítimas que foram atingidas durante a festa. Sei que palavras não vão trazer ninguém de volta e nem diminuir a dor de se perder um ente querido, mas fica aqui a minha tristeza e indignação", completou.
Mendes foi baleado com dois tiros no abdômen quando participava da festa junina. Encaminhado ao hospital Glória D'or pelos próprios moradores, não resistiu aos ferimentos. Segundo informações obtidas pela GloboNews, o jovem ainda chegou a ar por uma cirurgia.
Ele era office boy de uma imobiliária e deixa um filho de dois anos. "A gente só quer que alguém nos procure e diga quem autorizou aquilo. Secretário de Segurança, chefe do Bope, que alguém nos procure e explique. Quem autorizou? A vida do meu filho não volta", disse o pai de Mendes, Fernando Guimarães, à GloboNews.
Outras cinco pessoas foram feridas na mesma operação. Três delas têm estado de saúde estável, e não há informações oficiais sobre o estado das outras duas. Segundo disse à GloboNews o Hospital Souza Aguiar — para onde todas foram levadas —, uma delas deu entrada em estado grave.
O velório de Mendes começou às 11h no Cemitério de São João Batista, em Botafogo, e foi encerrado às 13h30.
Investigações em andamento
O Bope disse que foi à comunidade após denúncia sobre criminosos armados. Segundo a PM do Rio, um grupo de criminosos fortemente armados estava se preparando para uma possível investida de bandidos rivais em uma disputa territorial na região.
O Ministério Público do Rio disse que foi informado previamente da operação pelas forças de segurança. O órgão afirmou que está em contato com as polícias militar e civil do Rio para conseguir mais informações sobre o caso e se solidarizou com parentes das vítimas, feridos e com toda a comunidade. Peritos do MP estiveram no IML (Instituto Médico Legal) e fizeram uma perícia independente no corpo de Mendes.
Policiais envolvidos na operação tiveram suas armas apreendidas e imagens de suas câmeras corporais são investigadas pela Corregedoria. "O comando do Bope também instaurou um procedimento apuratório para analisar as circunstâncias dos fatos", disse o órgão em nota.
O Ministério da Igualdade Racial vai enviar ofícios às autoridades do estado e aos órgãos de controle para que "as razões e os efeitos da operação sejam apresentados". Pelas redes sociais, a ministra Anielle Franco classificou o caso como "revoltante e desesperador" e prestou solidariedade às famílias de Herus e dos feridos: "Um jovem morreu e várias pessoas ficaram feridas por uma política de segurança pública que não respeita a vida daqueles que moram e residem em favelas e periferias".
A ministra de Direitos Humanos, Macaé Evaristo, também se posicionou sobre o ocorrido. "Segurança pública não pode ser sinônimo de medo, é um direito de todos. Os direitos à cultura e à vida devem ser assegurados, independentemente do CEP", publicou em seus perfis em redes sociais.
O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro também divulgou nota de repúdio ao episódio. "Não se justifica uma operação policial durante plena festa junina, com a presença de crianças e adolescentes. A proteção à criança e adolescente é obrigação do Estado, não sendo aceitável que o enfrentamento ao crime organizado ponha em risco exatamente aqueles que temos a obrigação primária de proteger."
"Coloca a culpa no estado"
Desde a manhã de ontem, moradores se manifestam na entrada principal da comunidade e em frente à 9ª Delegacia Policial, no Catete, bairro próximo ao Morro Santo Amaro. Os moradores pediam paz.
O rapper Oruam também participou das ações da tarde de ontem. Em um vídeo do portal Voz das Comunidades, no Instagram, o artista diz que quer que sua visibilidade ajude a propagar o caso e diz: "coloca na culpa do estado, pode colocar essa daí. Mais uma!".
*Com Agência Brasil