Vendas no varejo do Brasil caem menos que o esperado em abril após 3 meses de altas
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro recuaram menos do que o esperado em abril, mas ainda interromperam uma série de três meses seguidos de ganhos em meio a um esperado processo de desaceleração econômica no país diante de condições monetárias restritivas.
Em abril, as vendas varejistas tiveram queda de 0,4% na comparação com o mês anterior, contra expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 0,8%.
O resultado informado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) marcou ainda a queda mais intensa nas vendas desde junho do ano ado (-0,9%).
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve avanço de 4,8% nas vendas, contra expectativa de alta de 3,4%.
"Está havendo uma desaceleração, após três meses de crescimento. Existe o efeito base, pois o patamar anterior foi recorde. É muito mais difícil subir”, explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, lembrando que em março o varejo atingiu o maior patamar da série histórica iniciada em janeiro de 2000. "A nossa interpretação é de uma perda na margem, mas não uma mudança de trajetória."
A expectativa de analistas é de que o setor varejista apresente acomodação no restante do ano, em um cenário de condições financeiras restritas, aperto monetário prolongado e inflação elevada, com destaque para a de alimentos.
O Banco Central volta a se reunir na próxima semana para decidir sobre a taxa básica de juros Selic, atualmente em 14,75% ao ano.
Por outro lado, sustentam o consumo das famílias o mercado de trabalho resiliente e o aumento da massa salarial.
"Os dados sugerem desaceleração tanto pelo motivo renda quanto pelo crédito, com o varejo sensível à renda recuando 0,4% e o sensível à crédito recuando 1,4% no mês", avaliou André Valério, economista sênior do Inter.
"Para os próximos meses, o desempenho do setor dependerá da manutenção do mercado de trabalho em patamar robusto, que tem dado sustentação à demanda. Por outro lado, as condições financeiras mais apertadas devem continuar a restringir o crédito."
Entre as oito atividades pesquisadas pelo IBGE sobre o varejo, tiveram retração nas vendas Combustíveis e lubrificantes (-1,7%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-1,3%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%) e Móveis e eletrodomésticos (-0,3%).
"O fator inflacionário afeta o setor de super e hipermercados, que é o grupo mais importante e orientador dos movimentos do varejo. A inflação ainda alta e a renda das famílias crescendo menos limitam o orçamento", disse Santos.
Resultados positivos foram registrados por Livros, jornais, revistas e papelaria (1,6%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,0%), Tecidos, vestuário e calçados (0,6%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,2%).
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças; material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas recuou 1,9% frente a março.