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Falta de regras locais trava reciclagem de resíduos da construção no Brasil

Concreto ainda é largamente usado no Brasil  - ungvar/Shutterstock via Olhar Digital
Concreto ainda é largamente usado no Brasil Imagem: ungvar/Shutterstock via Olhar Digital
do UOL

Mariana Rodrigues

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

12/06/2025 05h30

A produção de concreto é responsável por cerca de 8% das emissões de carbono globalmente.

No Brasil, o setor de processos industriais e produtos (IPPU), que inclui as indústrias mineral (itens como cimento, calcário) e metalúrgica (ferro e aço), entre outras, é responsável por 6,4% das emissões de gases do efeito estufa. O dado é do Inventário Nacional de Gases do Efeito Estufa, divulgado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, em 2022.

As emissões relacionadas às atividades do setor são resultantes dos processos produtivos nas indústrias, inclusive o consumo não energético de combustíveis como matéria-prima, de acordo com o inventário.

O concreto ainda é largamente utilizado no país. "O Brasil tem uma tradição de mais de 100 anos de uso desse material. Vemos crescer a utilização do aço, que é uma boa alternativa, mas ainda é pouco", afirma Roberto Lucas Jr., professor de arquitetura do Ibmec-RJ.

Entre as alternativas que geram menos impacto ambiental está o aço com a técnica "steel frame", que gera menos resíduo, mas ainda não é tão comum por aqui e nem pode ser usada em todas as edificações. E há também a madeira, muito usada nos Estados Unidos, por exemplo.

Existem outras propostas, como o isopor misturado ao cimento, mas essa técnica acaba impedindo que os resíduos gerados na construção e demolição sejam reciclados - o que ajudaria a reduzir o impacto ambiental ainda mais.

"Quando se fala de novos produtos, considera-se ainda só a economia no curto prazo. Não há uma um pensamento estratégico pensando em todo o ciclo do material", explica Levi Torres, coordenador da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição).

O maior desafio no Brasil hoje em relação aos materiais da construção civil, no entanto, não é a reciclagem de concreto, mas a falta de uma separação correta do material nas obras, afirma Levi.

A separação é benéfica para o ambiente de trabalho dos profissionais do setor, por proporcionar um local mais limpo e seguro. Além disso, resulta em uma economia de 20% do custo do processo entre triagem e reciclagem.

Mas não é o que se observa nas obras hoje. "O que existe, em geral, é o descarte de entulho, um composto heterogêneo de diversos materiais que estava na obra e que, dessa forma, não pode ser reutilizado de forma segura", diz o coordenador da Abrecon.

Outro problema é a destinação. Atualmente, há no Brasil 700 locais para o descarte correto de RCD (Resíduos da Construção e Demolição), mas a maior parte dos materiais que se vê em caçambas nas ruas - cerca de 70% - é descartado de forma clandestina nos mais de 3 mil lixões espalhados pelo país.

É preciso incentivo

Uma regulamentação nacional de 2002, do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), já obriga as empresas a separar, reciclar ou descartar corretamente os resíduos de suas obras. Mas, sem uma regulamentação municipal ou estadual, a resolução muitas vezes acaba não sendo aplicada.

Segundo a Pesquisa Setorial da Abrecon de 2022, o índice de reciclagem nacional é de 30%, ou seja, menos de um terço do volume total de RCD gerado no Brasil é recebido e tratado em usinas de reciclagem, áreas de triagem e transbordo ou aterros de resíduos inertes da construção civil.

Enquanto isso, a meta estabelecida pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares, 2022) é de apenas 25% - menor do que o que já é feito.

Bom exemplo

A cidade de Jundiaí, em São Paulo, é um exemplo de como a regulamentação pode promover mudanças positivas. Nela, quase todo o entulho é reciclado por determinação da prefeitura.

Além de ser uma opção mais sustentável, a reciclagem é também economicamente interessante. Na comparação com o material utilizado comumente como substrato para pavimentação, o RCD é 50% mais barato.

A prefeitura de Jundiaí informou que, nos primeiros quatro meses de 2022, economizou mais de R$ 350 mil com a produção de toneladas de areia, pedra e outros subprodutos utilizados em obras da cidade.

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