Quem é Ibrahim Traoré, polêmico presidente militar de Burkina Fasso
Ibrahim Traoré, presidente de transição do Burkina Fasso, vem se destacando como uma importante voz anti-imperialista na África. No entanto, sua decisão de permanecer no poder e a aversão a potências ocidentais o tornam uma figura controversa que alimenta diversas fake news.
O que aconteceu
Traoré foi um dos militares envolvidos em dois golpes de estado em Burkina Fasso em 2022.
1º golpe depôs o então presidente Roch Marc Christian Kaboré. Em janeiro daquele ano, a junta militar MPSR (Movimento Patriótico pela Salvaguarda e Restauração) dissolveu o governo, suspendeu a Constituição e fechou as fronteiras do país.
2º golpe derrubou o presidente interino, Paul-Henri Sandaogo Damiba, em setembro de 2022. Ele era o líder do MPSR no primeiro golpe. Foi retirado do cargo por uma dissidência que tinha Traoré como um dos membros.
Um dos principais desafios de Traoré é enfrentar grupos terroristas. Segundo a agência de notícias AFP, tais grupos são ligados à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico, que promovem uma guerra civil na região há pelo menos 15 anos.
Cerca de metade do território de Burkina Fasso está fora de controle. Ainda segundo a AFP, as insurgências jihadistas causaram dezenas de milhares de mortes, deslocaram mais de 2 milhões de pessoas de seus lares e levaram outras milhares a ar fome no país.
Junta militar tem tornado o país cada vez menos dependente da França, que o colonizou no ado. Burkina Fasso é um dos maiores produtores de ouro de África, além de ter reservas de cobre, zinco, manganês e fosfato. O governo de Traoré vem nacionalizando minas e criado bancos públicos. Além disso, proibiu a exportação de alimentos e está realizando mais acordos com Rússia e China, o que desagradou as potências ocidentais.
Atualmente, Burkina Fasso faz parte da Aliança dos Estados do Sahel, com Mali e Níger, que também aram por golpes de estado em 2021 e 2023, respectivamente. Os três países deixaram o bloco político da África Ocidental CEDEAO, formado por 13 nações africanas, e se uniram para se defender de ameaças externas.
Traoré prometeu eleições em julho de 2024, mas estendeu o próprio mandato por cinco anos. "Não é uma prioridade, claramente; a segurança é a prioridade", afirmou na época, referindo-se às insurgências e tentativas de tirar seu grupo do poder por meios coercitivos. Frustrada com a falta de progresso contra insurgentes, sua junta também cortou laços militares com a França em 2023.
Qual é a popularidade de Traoré na África e no mundo?
Traoré conta com forte apoio popular em Burkina Fasso. O entendimento de especialistas é que a população aprova as reformas e a nova distribuição de renda promovida pelo governo, além de se identificar com os inflamados discursos anticolonialistas.
Ele tem sido comparado a ícones de esquerda, como Che Guevara, líder da Revolução Cubana, e Thomas Sankara, revolucionário marxista que fundou Burkina Fasso. Ideias nacionalistas e identificação com outros países vizinhos que lutam por soberania — identificados ao movimento pan-africanista — têm destacado o militar na geopolítica mundial.
Redes sociais alimentam fama, mas virais nem sempre são naturais. Segundo a BBC, é possível encontrar vídeos gerados por inteligência artificial com artistas como Rihanna, Justin Bieber e Beyoncé citando Traoré em canções.
No Brasil, fake news tentam difamá-lo. Um vídeo supostamente mostrava Traoré ameaçando Lula e acusando o petista de cometer crimes diplomáticos. As publicações enganosas usaram ferramentas de inteligência artificial para fazer uma dublagem falsa em cima de um discurso de Traoré. Em sua fala original, ele não citou o brasileiro em momento algum. Outra fake news, desmentida pelo UOL Confere, dizia que o papa Leão 14 teria enviado uma mensagem secreta para o líder de Burkina Fasso.
Ibrahim Traoré, presidente de transição do Burkina Fasso desde 2022, vem se destacando como uma importante voz anti-imperialista na África.