Sob fogo cruzado de Trump e universidades, estudante galês de Harvard teme nunca mais voltar
Por Tom Little e Sam Tabahriti
COPENHAGEN (Reuters) - Quando Alfred Williamson fez as malas para viajar para a Dinamarca durante as férias de verão após um primeiro ano turbulento em Harvard, ele não via a hora de voltar para a universidade.
Agora, o estudante galês teme que talvez nunca mais volte. Ele é um dos milhares de estudantes internacionais envolvidos na batalha contra a instituição da Ivy League promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem se concentrado em impedir que Harvard matricule ou mantenha estudantes internacionais.
Muitos deles disseram à Reuters que evitam até mesmo reclamar, por medo de serem alvo das autoridades norte-americanas e, embora Williamson compartilhe desses temores, sente-se na obrigação de se manifestar.
"Quando as pessoas começam a silenciar, não estamos mais vivendo em uma democracia", disse ele à Reuters em Copenhague, onde estava hospedado com a família.
"Para mim, é absolutamente fundamental que eu expresse minha opinião para que possamos preservar esses valores sobre os quais os Estados Unidos foram fundados. De fato, os ideais de liberdade e direitos."
Desde que teve início, em janeiro, o governo Trump tem atacado repetidamente as escolas da Ivy League, acusando Harvard de promover a violência, o antissemitismo e a coordenação com o Partido Comunista Chinês, sem fornecer provas.
Na semana ada, seu governo revogou a capacidade de Harvard de matricular estudantes internacionais e disse que forçaria os atuais estrangeiros a se transferirem para outras universidades ou perderiam seu status legal, em uma escalada dramática da disputa.
"Quando recebi a notícia, fiquei em choque total e absoluto", disse Williamson, um estudante de graduação que está se dedicando a uma especialização dupla em física e governo, e que descreveu seu primeiro ano como o melhor de sua vida.
"Não sabia como reagir; não sabia o que sentir; não sabia o que pensar; não sabia se de repente eu seria um imigrante ilegal ou, como eles descrevem pessoas como nós, alienígenas. Foi uma notícia muito devastadora."
Harvard, onde os estudantes estrangeiros representam mais de um quarto das matrículas, entrou com uma ação na semana ada contestando a ordem. Um juiz federal emitiu uma liminar temporária de duas semanas, mas a incerteza persiste.
Williamson disse que não ouviu nada a respeito de seu visto, mas sabe que alguns colegas de classe estavam tendo dificuldades para obter renovações.
Ele disse que apreciou a resposta de Harvard e o apoio demonstrado aos estudantes estrangeiros da universidade em Cambridge, Massachusetts, que surgiu como um dos alvos institucionais mais proeminentes de Trump.
"Essa é a única maneira de lidar com alguém como Trump", disse ele. "Ele fará exigências atrás de exigências. Uma demanda se transformará em três, e três se transformarão em cinco."
Williamson disse que não estava disposto a contemplar a perspectiva de se transferir para uma universidade diferente e, apesar dos temores em relação ao governo, está desesperado para permanecer em Harvard, argumentando que a comunidade internacional contribui muito para os EUA.
Ainda assim situação atual é profundamente desconfortável, avalia: "Estamos sendo usados como peões em um jogo do qual não temos controle, e estamos sendo pegos nesse fogo cruzado entre a Casa Branca e Harvard, e isso é incrivelmente desumano."
(Reportagem de Sam Tabahriti em Londres)