Braga Netto diz que delator Mauro Cid mentiu em depoimento
O general Braga Netto, que está preso no Rio, disse que o delator Mauro Cid mentiu em seu depoimento, que o implica em acusações sobre tentativa de golpe de Estado.
O que aconteceu
Braga Netto diz que Cid mentiu em várias ocasiões de sua delação e de seu depoimento. Ele diz que recebeu dois integrantes das Forças Especiais, que não conhecia, a pedido de Cid, numa visita de cortesia, em que nenhum assunto foi tratado com profundidade. Já o tenente-coronel diz que eram conhecidos de longa data do general e se encontraram para falar sobre golpe.
Também rebate na questão sobre um dinheiro que foi entregue a Cid. Ele diz que isso não aconteceu. "Eu não tinha contato com financiadores, então não tinha como pedir dinheiro e não entreguei dinheiro para ninguém", afirma. Cid diz que recebeu do general um pacote dentro de uma caixa de vinho. Ele não estimou quanto havia nele, mas teria guardado o pacote embaixo de sua mesa numa sala do Alvorada.
Eu sou um democrata. Eu não iria apoiar um plano que falasse de atentado contra autoridades do Legislativo, autoridades do Executivo. Não iria participar de um plano desse.
General Braga Netto
Ataques a chefes das Forças foram 'mensagens tiradas de contexto'. General falou que as mensagens em que pede para que "sentem o pau" no general Freire Gomes, então comandante do Exército, e no brigadeiro Baptista Júnior, ex-chefe da Marinha, que não teriam aderido ao golpe, foram tiradas de contexto. Depois, disse que não se lembrava de tê-las enviados.
Braga Netto justifica presença em reunião para montar plano de governo com Bolsonaro. "Eu estava trabalhando no PL e estava encarregado de fazer o plano de governo, o que eu nunca tinha feito. Para mim era interessante para escutar a opinião dos ministros para tirar alguma coisa que interessasse para mim no plano de governo."
General está preso no Rio. Ele depõe por videoconferência ao lado de seus advogados. Ele foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro pela reeleição.
Moraes brincou sobre situação de Braga Netto. "Eu sei que o senhor está preso. Fui eu que decretei", afirmou, arrancando risadas no plenário.
Como foram os outros depoimentos
Jair Bolsonaro, ex-presidente
Ele negou qualquer tentativa de golpe de Estado. Justificou suas críticas ao sistema eleitoral e ao Judiciário como "retórica" e pediu desculpas. Ainda conseguiu fazer piada e rir com o ministro Alexandre de Moraes.
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
Ele negou qualquer ação de tentativa de golpe de Estado. Também pediu desculpas pelas falas contra as urnas eletrônicas.
Mauro Cid, delator
O tenente-coronel confirmou tentativa de golpe, mas negou participação. Ele disse que "presenciou grande parte dos fatos", mas não tomou nenhum atitude golpista.
Ainda acusou Bolsonaro de ter "recebido e lido" a minuta do golpe. O tenente-coronel disse que ele fez alterações no documento e "deu uma enxugada" para retirar a parte que pedia a prisão de autoridades, deixando somente Moraes.
Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin
Deputado itiu que não há provas de fraudes nas urnas. Ele argumentou que fazia anotações "privadas" sobre alguns assuntos para organizar suas ideias, mas não enviava ao então presidente Bolsonaro.
Moraes questionou se Ramagem havia usado a agência para monitorar ministros do STF. "Nunca utilizei monitoramento algum pela Abin de qualquer autoridade", respondeu.
Almir Garnier, ex-comandante da Marinha
Sem minuta. Disse não ter visto documento sobre ruptura institucional e negou ter colocado tropas à disposição de Jair Bolsonaro.
Confirmou reunião com Bolsonaro. Ele itiu um encontro no dia 7 e 14 de dezembro — este último, segundo ele, com os comandantes das Forças se encerrou rapidamente. Mas "não houve apresentação de documento durante a reunião".
General Augusto Heleno, ex-chefe do GSI
Ele usou o direito de permanecer em silêncio e não respondeu às perguntas de Alexandre de Moraes, só as de seu advogado. Foi o primeiro a ficar calado.
O general negou saber sobre plano em que se planejava um gabinete após a ruptura institucional. Ele ficaria a cargo desse comando. Também descartou qualquer tentativa de sair das quatro linhas da Constituição, que ele chamou de "lema do governo Bolsonaro".
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF
Disse que houve "falha grave na aplicação de protocolo em 8/1". Ele estava em viagem na Disney naquela ocasião. "Viajei adotando todas as providências que o secretário de Segurança Pública tem que tomar" e "nada indicava invasão de manifestantes dos acampamentos".
Ele chamou a minuta do golpe encontrada em sua casa de "minuta do Google". Negou ser o autor do documento. Disse ainda que havia erros de português e que ela estava em sua casa para ser descartada.