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Saiba mais sobre a vida em Singapura, um dos lugares mais caros do mundo

05/06/2025 11h16

Neste mês de agosto, a cidade-Estado de Singapura completa 60 anos de independência da Malásia. De uma ilha sem recursos naturais e cheia de incertezas, tornou-se uma potência financeira global, reconhecida por sua eficiência, segurança e qualidade de vida. Mas viver em Singapura tem um custo ? e dos altos. Moradia, transporte e alimentação pesam no bolso.

Fernanda Nidecker, correspondente da RFI em Singapura

Em 2023, Singapura foi classificada pela Economist Intelligence Unit (EIU) como a cidade mais cara do mundo, ao lado de Nova York. O ranking avalia preços de mais de 200 produtos e serviços em 173 cidades.

Morar na cidade custa ? e muito. Alugar um apartamento simples com dois quartos em um bairro central pode ultraar 5 mil dólares singapurenses por mês, o equivalente a R$ 20 mil. A alimentação também pesa. Um litro de leite sai por cerca de R$ 16, e um quilo de tomate pode chegar a R$ 44.

A razão é simples: Singapura importa mais de 90% dos seus alimentos. Com pouco espaço e clima inadequado para grandes plantações, o país importa quase tudo da Malásia, Austrália, Indonésia, China, Estados Unidos e até da Europa.

O Brasil também tem papel de destaque e é o maior fornecedor de frango para o país. Quase metade do frango consumido em Singapura vem do Brasil ? processado por empresas como BRF e JBS.

E não é só comida: até a água potável é importada. A maior parte vem da Malásia, complementada por sistemas de dessalinização e pela chamada NEWater ? água reciclada para uso doméstico e industrial.

Segurança, carros a preço de Porsche

Singapura é segura ? muito segura. Aqui, todo mundo anda pela rua falando ao celular, usa o próprio telefone para segurar mesa enquanto aguarda na fila do café. Os índices de violência são extremamente baixos. Em 2023, foram registrados menos de 600 crimes violentos em toda a cidade, que tem quase 6 milhões de habitantes.

O governo mantém esse controle com leis rígidas, câmeras por toda parte e um sistema judicial eficiente. Atos como vandalismo e tráfico de drogas podem levar à prisão ou até à pena de morte.

E até quem importa, vende ou mastiga chiclete pode ser multado em até 10 mil dólares singapurenses e pegar um ano de cadeia. Tudo em nome da limpeza pública e da preservação dos espaços urbanos.

Para quem pretende dirigir em Singapura, é necessário preparar o orçamento. O governo exige a aquisição do Certificate of Entitlement (COE) ? um certificado obrigatório para registro e posse de veículos no país. O valor desse documento pode ultraar R$ 480 mil e, somado ao custo do automóvel em si, como um modelo comum da Toyota, o total pode superar os R$ 600 mil. Mas o objetivo do COE vai além do preço.

Criado nos anos 90, o sistema existe para controlar a quantidade de carros nas ruas de uma cidade pequena e densamente povoada. Emitindo apenas um número limitado de certificados por mês, o governo consegue manter o trânsito fluindo.

O COE também tem uma função ambiental importante: ao limitar o número de carros, reduz-se a emissão de poluentes e melhora-se a qualidade do ar. Junto com incentivos a carros elétricos e transporte público eficiente, a medida ajuda Singapura a manter seu compromisso com a sustentabilidade.

O resultado são trânsito ordenado, metrôs pontuais e um dos melhores sistemas de transporte público do mundo.

60 anos de independência: conquistas e novos desafios

Desde a sua separação da Malásia em 1965, Singapura foi liderada com mão firme por Lee Kuan Yew, seu primeiro-ministro fundador. Ele transformou um porto colonial em uma potência global. Nas décadas seguintes, o país cresceu a taxas chinesas, apostando em educação, tecnologia, infraestrutura e estabilidade política.

Hoje, Singapura compete diretamente com Dubai e Hong Kong como centro financeiro e tecnológico da Ásia. Mas enfrenta desafios: o aumento do custo de vida afeta principalmente os mais jovens.

A cidade também impõe restrições à entrada de estrangeiros, o que dificulta a vida de muitas famílias expatriadas. Por exemplo, cônjuges de profissionais com visto de trabalho ? o chamado Employment ? não podem trabalhar automaticamente, dependendo de autorizações extras e difíceis de conseguir.

Além disso, a cidade-Estado precisa equilibrar sua posição global com o crescimento de vizinhos como Indonésia e Vietnã, que atraem empresas com custos mais baixos. Ainda assim, Singapura segue entre os líderes: foi considerada a terceira cidade mais feliz do mundo em 2024, segundo pesquisa da Ipsos, ficando atrás apenas de Zurique e Sydney. Segurança, oportunidades e qualidade de vida continuam sendo os maiores atrativos.

Com 60 anos de história, Singapura mostra que tamanho não define ambição. Pequena no mapa, gigante em resultados ? mas com um custo à altura. Para quem sonha em morar aqui, vale lembrar: qualidade de vida tem seu preço. E por aqui, ele é bem alto.

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