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EXCLUSIVO-Petrobras precisa estar na África, principal foco fora do Brasil, diz CEO

05/06/2025 17h05

Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira e Fabio Teixeira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras planeja tornar a África sua principal região exploratória de petróleo e gás fora do Brasil, enquanto busca repor suas reservas e adiar o pico da produção da companhia atualmente previsto para o início da década de 2030, afirmou a presidente da estatal, Magda Chambriard, nesta quinta-feira.

A executiva, que completa neste mês um ano à frente da empresa, destacou que a Costa do Marfim estendeu um "tapete vermelho" para a companhia operar em águas profundas e ultraprofundas de seu litoral, comentando acordo de exclusividade para negociação de nove blocos anunciado na véspera.

A investida no exterior, no entanto, ocorre em paralelo com os esforços da empresa para abrir novas fronteiras no Brasil, diante da necessidade de repor reservas, em especial nas bacias da Foz do Rio Amazonas e Pelotas.

"O que nós fizemos ao longo deste ano foi repaginar a exploração da Petrobras... Somos especialistas na exploração do Brasil e a correlação do Brasil com a África é inequívoca. Então, nós precisamos ir para a África... onde a África nos deseja", afirmou Chambriard, ao receber a Reuters para uma entrevista.

O movimento recente marca um retorno ao continente africano, após a companhia ter se desfeito de ativos na região em governos anteriores, em meio a um plano de desinvestimentos de dezenas de bilhões de dólares, que fez a empresa focar apenas em áreas de alta produtividade no Brasil, essencialmente no pré-sal.

Os planos para operar no exterior, em busca de reservas, vão ficando mais claros apesar de Chambriard ter recebido a missão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ampliar investimentos no Brasil, para ajudar a impulsionar a economia. A CEO tem repetido que "não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração".

Dentre as áreas de interesse da petroleira no continente africano, estão Namíbia, onde a companhia disputou uma fatia de área da Galp chamada Mopane, além de São Tomé e Príncipe e África do Sul, onde a petroleira já tem ativos.

No caso de Mopane, Chambriard disse que a oferta da Petrobras, especialista em águas ultraprofundas, foi superada pela concorrente TotalEnergies.

Questionada se isso seria uma derrota definitiva, ela respondeu: "esperamos ser convidados", sem dar detalhes.

A empresa também busca explorar a costa da Índia, onde participará de um leilão de blocos previsto para julho, disse Chambriard, pontuando que os indianos já são consumidores de produtos da Petrobras.

"A Índia tem um mercado gigantesco, tanto para o gás quanto para o óleo. Então, as licitações deles devem ter um condão de privilegiar primeiro o mercado local, mas nada contra, porque hoje nós já exportamos óleo para a Índia. Então, produzir lá e entregar para a Índia não tem problema nenhum para nós", afirmou.

PLANO DE INVESTIMENTO

A petroleira planeja 30 novos poços exploratórios no próximo plano de negócios para o período de 2026 a 2030, mesmo número previsto no planejamento em vigor.

Alguns poços poderiam acontecer na Bacia da Foz do Amazonas, onde Chambriard acredita que a companhia poderá realizar um simulado na segunda quinzena de julho, no último o antes que o órgão ambiental federal Ibama decida se dará uma licença para a perfuração.

Para o plano de negócios em geral, Chambriard afirmou que a companhia terá que se readequar "a uma nova perspectiva de patamar de preços", após o petróleo Brent ter recuado aproximadamente US$20 por barril neste ano, para cerca de US$65 por barril.

"Nós vamos ter que fazer um esforço muito grande de redução de custos, de simplificação de projeto", afirmou, evitando responder se deverá reduzir o valor previsto no atual plano para o período de 2025 a 2029, de US$111 bilhões.

FERTILIZANTES/BRASKEM

Chambriard reiterou o interesse na área de petroquímica e fertilizantes, e afirmou que o edital para a contratação de um novo operador para as fábricas de fertilizantes na Bahia e em Sergipe já foi publicado. A expectativa é que o resultado seja conhecido em cerca de três meses.

A previsão, segundo a executiva, é que a produção das unidades do Nordeste seja retomada até o fim do ano, uma vez que o governo Lula busca reduzir a dependência brasileira da importação do insumo agrícola.

A Petrobras havia arrendado as duas fábricas de fertilizantes nitrogenados para a Unigel em 2019, sob um contrato de 10 anos, mas ambas as instalações estão fechadas desde 2023, com a arrendatária alegando condições operacionais inviáveis ​​devido aos altos preços do gás natural no Brasil.

No mês ado, as empresas fecharam um acordo que permitiria à Petrobras trabalhar na retomada das operações das duas fábricas.

No setor petroquímico, Chambriard avaliou positivamente o interesse do empresário Nelson Tanure na fatia da Novonor na Braskem, onde a petroleira tem cerca de 47% no capital votante.

"Nós só podemos aplaudir (oferta de Tanure), queremos uma solução", disse a executiva.

A executiva também confirmou reportagem da Reuters ao afirmar que a companhia quer uma revisão no acordo de acionistas na Braskem, para melhorar sua representatividade e ser mais ouvida nas decisões da empresa.

"No nosso ponto de vista atual, a gestão da Braskem não é a que a gente deseja. Então, o sócio que tem 47% de parceria num ativo não pode não mandar nada nesse ativo", afirmou.

Chambriard também frisou que a empresa não planeja reestatizar a petroquímica.

Ela também disse que a Petrobras não tem planos, no momento, de retornar ao segmento de distribuição de combustíveis, ainda que tenha feito críticas recentemente sobre rees insuficientes das reduções de preços da companhia para os consumidores.

(Por Rodrigo Viga Gaier, Marta Nogueira e Fabio Teixeira)

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