Bolsonaro deixa PF após depor sobre Eduardo e nega ter falado de Zambelli
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento hoje à Polícia Federal na investigação sobre a atuação de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Ele afirmou que mandou R$ 2 milhões ao deputado e negou ter sido interrogado sobre a fuga da deputada Carla Zambelli (PL-SP).
O que aconteceu
Na saída da superintendência da PF, em Brasília, o ex-presidente afirmou que não tem "nada a ver" com Zambelli. "Não botei dinheiro no Pix dela. Acompanhei pela imprensa. Hoje, fui ouvido apenas pela questão da conta do meu filho nos Estados Unidos", disse. Seu advogado, Paulo Cunha Bueno, afirmou ter recebido uma intimação do STF sobre um processo de 2023, mas, por não ter tido o aos detalhes do inquérito, não sabe do que se trata.
O trabalho que Eduardo faz nos Estados Unidos é pela "democracia" no Brasil, disse o ex-presidente. "Botei R$ 2 milhões na conta dele. Lá fora, é tudo mais caro. Tenho dois netos e não quero que ele e por dificuldade."
Bolsonaro foi intimado hoje a falar também sobre Zambelli. Ele já estava com depoimento marcado para as 15h para ser ouvido sobre a atuação do filho Eduardo Bolsonaro.
A PF marcou o depoimento após Alexandre de Moraes autorizar as aberturas das investigações. O ministro do STF deu dez dias para o ex-presidente ser ouvido sobre a atuação de Eduardo no dia em que autorizou a abertura do inquérito. Moraes também determinou a apuração se Zambelli cometeu os crimes de obstrução de investigação e coação em seu processo.
Entenda o caso de Eduardo
Eduardo Bolsonaro anunciou em março que iria tirar licença do mandato parlamentar e morar nos EUA. Desde então, ele vem tentando articular junto a autoridades americanas medidas que possam atingir Moraes. Recentemente, o governo de Donald Trump anunciou que pretende cassar o visto de quem promova "censura" de cidadãos americanos, iniciativa que foi vista como uma forma de atingir o ministro.
Para a PGR, Eduardo tenta interferir no Judiciário para beneficiar Bolsonaro. Segundo Paulo Gonet, há "evidências" de que o deputado estaria buscando "interferir no andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal, em curso contra o senhor Jair Bolsonaro e aliados". Bolsonaro é réu em ação penal no STF, apontado como chefe de uma organização criminosa que tentou um golpe de Estado para mantê-lo na Presidência após sua derrota nas eleições de 2022.
Gonet diz que há indícios de que o parlamentar estaria cometendo crimes. Ele lista obstrução contra investigações, coação no curso do processo e atentado à soberania do Brasil. Moraes é o relator da ação contra Bolsonaro na Corte.
A PGR afirma que Eduardo estaria articulando sanções dos EUA a Moraes para "coagir" o STF. Na petição, Gonet cita declarações dadas pelo deputado à imprensa de que estaria realizando agendas com congressistas americanos e membros da gestão Trump para impor medidas do país contra Moraes, como proibi-lo de realizar transações, abrir contas em bancos e usar o cartão de crédito.
Zambelli na lista da Interpol
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), foragida da Justiça brasileira, entrou hoje na lista vermelha da Interpol. Com isso, ela a a ser procurada internacionalmente. A polícia internacional emitiu alerta vermelho contra a parlamentar, a pedido da Polícia Federal brasileira. A inclusão do nome dela foi determinada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). Moraes também mandou prender preventivamente a deputada.
Zambelli fugiu do Brasil após ser condenada a dez anos de prisão por invadir os sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O UOL apurou que a deputada saiu do Brasil no fim de maio, pela fronteira com a Argentina.
Ela disse anteontem que estava em Miami, nos Estados Unidos, mas agora informa estar na Itália. Nesta quarta-feira, o ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo disse no X que falou com Zambelli e que ela "já está bem e em segurança na Itália". A assessoria da deputada confirmou a informação, sem dar detalhes sobre em qual cidade ela está.
Para Moraes, é clara a intenção de Zambelli de fugir da pena e de continuar a espalhar notícias falsas e ataques à democracia brasileira. Além da prisão, o ministro também determinou o bloqueio dos aportes, das contas bancárias e do salário e quaisquer verbas de gabinete pagos pela Câmara à deputada.
Zambelli contesta ordem da Justiça brasileira. Em nota, a deputada disse que o mandado é "ilegal, inconstitucional e autoritário".
A condenação de Zambelli no STF
Há três semanas, a deputada foi condenada a dez anos de prisão e à perda de mandato por ter invadido o sistema do CNJ. A decisão foi por unanimidade na Primeira Turma do STF — segundo a denúncia, Zambelli contratou um hacker para inserir um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, assinado por ele mesmo.
Zambelli ainda podia recorrer da condenação no STF. É por isso que a pena não começou a ser aplicada logo depois do julgamento. A defesa de Zambelli protocolou embargos de declaração no final de maio e, segundo Moraes, o julgamento deles aconteceria em breve. Esse tipo de recurso não altera a pena, mas impede o início do cumprimento imediato. Ele é usado para pedir ao tribunal que se esclareça pontos confusos, contraditórios ou incompletos da decisão.
A deputada estava com seu aporte em mãos, e não havia mandado de prisão contra ela quando deixou o país. Entretanto, a fuga e a declaração de que ela continuaria a fazer ataques à democracia brasileira motivaram o pedido de prisão preventiva. Em entrevista a uma rádio bolsonarista, ela disse que "agora poderia falar com mais tranquilidade" "que as urnas eletrônicas não são confiáveis".