A importância de práticas docentes humanizadas
A importância de práticas docentes humanizadas - O que há por trás da falta de atenção de estudantes? Apesar de entender as limitações e que não tem como educadores solucionarem todos os problemas da sala de aula, não podemos perder a fé na educação.Muito se fala do comportamento dos alunos, da falta de atenção e do interesse deles em sala de aula. Porém, qual o papel do professor frente a esses desafios? Qual o impacto das ações dos professores na sala de aula? Como podemos fazer a diferença levando em consideração que, ao se formar em licenciatura, assumimos um papel político e social de modo a contribuir positivamente com a educação.
É importante entendermos a nova realidade dos ambientes escolares, em que a diversidade e a complexidade exigem muito mais do professor do que apenas dominar o assunto, ressaltando a função social da profissão, que vai além da transmissão de conhecimento.
Estou no final da minha graduação em Letras Vernáculas, a qual exige a realização de estágios em escolas públicas. Cumpri um dos estágios na instituição que me formei, o Instituto Federal da Bahia, observando a aula de uma professora que foi muito importante para mim nessa época, Manuela Peixinho.
Nesse estágio, somos orientados a observar diversos elementos, como as práticas pedagógicas da professora, os alunos e outros elementos que interferem no processo de aprendizagem. A partir das observações, notei como é importante a discussão sobre as questões sociais que peram a sala de aula durante a formação docente.
Desafios em sala de aula e esperança transformadora
Nas aulas observadas, um dos pontos que notei era como a professora lidava com a dificuldade de concentração dos alunos, principalmente depois da proibição do uso dos celulares. Alguns alunos continuam usando o aparelho, uns de forma rápida, outros nem tanto. As intervenções eram necessárias nesses momentos, como pegar o celular e guardar até o final da aula. Outros alunos ficavam rabiscando no caderno, olhando para o nada ou coisa parecida.
Enquanto observava, refletia sobre até que ponto podemos considerar isso como uma estratégia de autorregulação ou se era apenas falta de interesse mesmo. Porém, independente do motivo, a professora sempre mobilizava estratégias para que a aula fosse produtiva, fazendo perguntas provocativas, voltando a atenção deles para o conteúdo.
Além disso, outro ponto observado foi a dificuldade de leitura que os alunos enfrentam. A professora comentou que eles não conseguem ler e interpretar as atividades e isso a preocupava. Como intervenção, ela ou a fazer um círculo de leitura, em que os alunos liam e comentavam um capítulo específico de um livro ao final de toda aula. Mesmo não tendo certeza se todos realmente leem, era uma tentativa de instigar a leitura e o pensamento crítico.
Apesar de entender as limitações e que não tem como os educadores solucionarem todos os problemas da sala de aula, não podemos perder a fé na educação. Às vezes, acabamos rotulando os discentes, esquecendo que eles reproduzem os discursos manipuladores provenientes do sucateamento da educação.
Portanto, é evidente a importância de uma abordagem de ensino crítica e reflexiva, alinhada à educação libertadora de Paulo Freire, a qual possibilita ao educando compreender e ocupar criticamente o seu lugar no mundo, abordagem essa que felizmente observei nas aulas da professora Manuela Peixinho.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Alisson Nascimento dos Santos, 23 anos, estudante de Letras na UFBA, em Salvador (BA). O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.
Autor: Alisson Nascimento dos Santos