Ex-comandantes reafirmam ao STF proposta golpista de Bolsonaro; veja vídeo
Ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, o general Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior confirmaram as reuniões em que se falou sobre propostas golpistas de Jair Bolsonaro. Os vídeos de seus depoimentos ao STF (Supremo Tribunal Federal) foram liberados hoje.
O que aconteceu
Os dois ex-comandantes reafirmaram os relatos dados à PF sobre reunião com Bolsonaro após o segundo turno. Eles itiram que o ex-presidente conversou com militares para buscar alternativas para se manter no poder. Baptista Júnior inclusive chegou a relatar que eles discutiram a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
O ex-comandante do Exército tentou amenizar a atitude do ex-chefe da Marinha, mas foi repreendido por Moraes. "Se mentiu na polícia, tem que dizer que mentiu na polícia. Agora não pode perante o STF. Solicito que, antes de responder, pense bem, porque Vossa Senhoria afirmou na polícia que o depoente e o brigadeiro Baptista Júnior afirmaram de forma contundente sua discordância em relação ao conteúdo exposto."
Baptista Júnior salientou conteúdo golpista nas reuniões. Os três chefes das Forças Armadas e o então presidente, Jair Bolsonaro (PL), se reuniram e trataram de hipóteses golpistas, não apenas possibilidades de uso das Forças para garantir a paz social até a transição. Ao ser questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, se havia sido discutida a prisão de ministros do STF, ele respondeu que sim e citou a possibilidade de prisão de Moraes.
Segundo Baptista Júnior, a possibilidade foi discutida em um "brainstorm". Em meio aos debates para avaliar os diferentes cenários, Baptista Júnior disse que, quando a prisão foi aventada, um dos presentes teria colocado que seria necessário prender todos os ministros do STF ou Moraes seria solto imediatamente pelo tribunal.
Reunião é um dos pontos principais da denúncia. Bolsonaro e mais sete são réus na ação penal por tentativa de golpe de Estado.
Ao todo, segundo Baptista Junior, ele teria participado de cinco reuniões com o então presidente em novembro de 2022. Encontros com os comandantes das demais Forças ocorreram nos dias 2, 12, 14, 22 e 24 daquele mês, logo após Bolsonaro ser derrotado por Lula no segundo turno das eleições daquele ano, realizado em 30 de outubro.
Militar disse que preocupação inicial era com a paz social e o contexto de radicalismo no país. Em seu relato, ele disse que inicialmente as Forças Armadas cogitavam a implementação de operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) justamente para combater situações que poderiam levar ao caos social, como os acampamentos golpistas e os riscos de greves de caminhoneiros.
A partir do dia 11 de novembro, porém, Baptista Junior se deu conta que o presidente queria utilizar os instrumentos com outros objetivos. Militar teria percebido que objetivo era evitar a posse de Lula, seja por meio de GLO ou estado de exceção, e não garantir a segurança até a transição presidencial ocorrida em janeiro de 2023, segundo ele.
Críticas a almirante e contradição com Freire Gomes. O brigadeiro também narrou a hipótese de prisão mencionada pelo general Freire Gomes de forma diferente. "Não é uma coisa simples se esquecer do general tratando de uma hipótese de prisão. Não foi ordem de prisão como vi na imprensa, foi hipótese. A minha palavra eu mantenho: por educação, ele disse ao presidente que por hipótese teria que prendê-lo."
Em depoimento na segunda-feira, Freire Gomes apresentou versão diferente. Em seu depoimento, general foi mais ameno e disse que teria alertado o presidente que ele poderia ser "enquadrado juridicamente" se insistisse em algumas teses que saíam do "aspecto jurídico".