Guerra comercial reduz perspectivas de crescimento econômico mundial, alerta OCDE
A OCDE reduziu, nesta terça-feira (3), sua previsão anual de crescimento econômico mundial devido às tensões comerciais e à incerteza provocadas por Donald Trump, que terão um impacto particular para os Estados Unidos.
Desde que voltou ao poder em janeiro, Trump impôs tarifas abrangentes a aliados e rivais que abalaram a ordem comercial global e agitaram os mercados financeiros.
"O ambiente econômico global tornou-se muito mais difícil", reconheceu o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira, referindo-se às tarifas.
Após um crescimento de 3,3% em 2024, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico projeta uma expansão de 2,9% para 2025 e em 2026, segundo as perspectivas atualizadas.
No relatório anterior, divulgado em março, a organização formada por 38 países e com sede em Paris projetava um crescimento de 3,1% para este ano e de 3% para 2026.
Como consequência da política comercial dos Estados Unidos, "revisamos para baixo o crescimento de praticamente todas as economias do mundo", declarou à AFP o economista-chefe da organização, Álvaro Pereira.
"A desaceleração se concentraria nos Estados Unidos, Canadá e México, enquanto a China e as demais economias deveriam ar por ajustes para baixo mais limitados", aponta o relatório da OCDE.
Diante das tarifas, "a melhor opção é 'sentar, chegar a um acordo e todo mundo sairá ganhando'", disse Pereira, em uma mensagem aos países afetados pelas sanções dos Estados Unidos.
- Desaceleração dos Estados Unidos -
A perspectiva é particularmente sombria para os Estados Unidos. A OCDE espera que a economia americana registre uma desaceleração "clara" de 2,8% em 2024 para 1,6% este ano - 0,6 ponto a menos que na previsão anterior - e para 1,5% em 2026.
"Isto se explica pelo aumento notável das taxas efetivas das tarifas sobre as importações e pelas medidas de retaliação adotadas por alguns parceiros comerciais", destacou a organização.
O presidente republicano impôs uma tarifa básica de 10% sobre as importações de todo o planeta, com taxas separadas de 25% para aço, alumínio e automóveis.
Trump ameaçou aplicar tarifas mais elevadas para produtos de dezenas de países, mas suspendeu a adoção da medida até julho para dar mais tempo às negociações.
A OCDE também apontou a "elevada incerteza econômica vinculada à ação pública, à pronunciada contração da imigração líquida e a uma redução significativa" no número de funcionários federais.
"Graças às tarifas, nossa economia está EM PLENO AUGE", afirmou nesta terça-feira o presidente americano em sua plataforma Truth Social, pouco antes da apresentação das previsões.
Enquanto se espera uma inflação anual "moderada" entre as economias do G20, a 3,6% em 2025 e 3,2% em 2026, os Estados Unidos são "uma exceção importante", segundo o relatório.
- Situação "desafiadora" para a América Latina -
A OCDE reduziu levemente, de 4,8% para 4,7%, a previsão de crescimento este ano para a China, a segunda maior economia do mundo e o país afetado pelas tarifas mais elevadas anunciadas por Trump.
A situação é "desafiadora" para a América Latina, de acordo com Aida Caldera, chefe de divisão do departamento de economia da OCDE, que cita três riscos: menor demanda externa, condições financeiras mais rígidas e dificuldades para atrair investimentos devido à incerteza.
O Brasil mantém sua perspectiva de crescimento inalterada para 2025, a 2,1%, e tem um aumento para 2026, 1,6% (+0,2 ponto), mas com uma clara desaceleração após a expansão de 3,4% de 2024.
A perspectiva para o México sai do território recessivo, com uma expansão esperada de 0,4% em 2025 e 1,1% um ano depois, após um crescimento de 1,5% em 2024.
A economia da Argentina deve voltar a crescer, com 5,2% em 2025 e 4,3% em 2026, após uma contração de 1,7% no ano ado.
A expansão do Chile permaneceria estável em 2,4%, enquanto a economia da Costa Rica desaceleraria para 3,1%. A Colômbia cresceria de 1,6% em 2024 para 2,5% este ano e 2,6% no ano seguinte.
A perspectiva para a economia da zona do euro também permanece intacta, com um crescimento de 1% previsto para 2025.
Além dos Estados Unidos, outro país com uma revisão considerável é o Japão: o relatório reduziu a previsão de crescimento do país de 1,1% para 0,7% em 2025.
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