Pobreza menstrual atinge 42% das mulheres europeias, diz estudo
Cerca de 500 milhões de meninas, adolescentes e mulheres são atingidas pela pobreza menstrual em todo mundo. Nos países da União Europeia, 50 milhões de pessoas que menstruam utilizam produtos inadequados durante o ciclo. É o que mostra um estudo divulgado nesta semana por ocasião do do Dia Internacional da Dignidade Menstrual, 28 de maio.
Daniella Franco, da RFI
Pouco debatida, mas considerada um problema de saúde pública pela ONU, a pobreza menstrual começou a ser evocada nos anos 2010. Graças ao trabalho da ONG Wash United, baseada na Alemanha, em 2014 foi estabelecido o Dia Internacional da Dignidade Menstrual, reconhecido atualmente em cerca de 50 países.
Além da falta de o a produtos, a pobreza menstrual engloba problemas mais amplos: a falta de insfraestrutura sanitária adequada e a falta de informações sobre saúde da mulher. Embora em diferentes proporções no mundo, o problema atinge pessoas em situações vulneráveis: periféricas, sem-teto, migrantes, pessoas trans, trabalhadoras do sexo, detentas e mulheres com deficiência.
A associação sa Regras Elementares, que a cada 28 de maio encomenda pesquisas do instituto Opinion Way, divulgou nesta semana o primeiro estudo sobre pobreza menstrual na União Europeia. Segundo o balanço, 42% das mulheres do bloco acima dos 18 anos e em idade reprodutiva afirmam ter enfrentado dificuldades nos últimos 12 meses para comprar produtos de higiene menstrual.
Menstruar custa caro
No início deste ano, o Parlamento Europeu calculou que a higiene menstrual pode custar até € 27 mil euros (quase R$ 174 mil) ao longo da vida das pessoas que menstruam. Uma resolução, adotada em 2021, incentivou os membros do bloco a reduzir os impostos sobre mercadorias de higiene íntima. "No entanto, essa ação foi prejudicada pela inflação, pois o aumento dos preços compensou a redução fiscal, o que teve impactos na ibilidade dos produtos", diz o site da instituição.
Na falta de produtos para higiene menstrual, meninas, adolescentes e mulheres em situação precária colocam sua saúde em risco, usando produtos além do tempo recomendado ou inadequados. A associação Regras Elementares lista alguns deles: panos, papel higiênico e até jornais.
"Isso pode ter consequências sanitárias graves", alerta Maud Leblon, diretora da Regras Elementares, em entrevista à emissora info. Segundo ela, a pobreza menstrual atinge pessoas em situação extremamente precária, mas também mães solo ou estudantes "impedindo-as de ir trabalhar ou estudar em boas condições".
De fato, o balanço de 2023 da associação mostrou que 53% das adolescentes acima de 15 anos na França já deixaram de ir para a escola por estar menstruada. Para 80% das meninas sas, menstruar na escola é um fator de estresse.
Debate na França
Há dois anos, o balanço anual do OpinionWay sobre a questão mostrou que 53% das pessoas entrevistadas, entre mulheres e homens, não tinham conhecimento sobre o que é a pobreza menstrual. Entre os entrevistados, 57% afirmavam que jamais tiveram nenhum aprendizado formal sobre menstruação. O mesmo número - 57% - também diziam acreditar que essa etapa do ciclo reprodutivo das mulheres continuava sendo tabu na França.
Em 2023 um projeto de gratuidade de alguns produtos de higiene menstrual entrou no orçamento do ano seguinte da Seguridade Social sa. No entanto, até o momento, ele não foi implementado.
Nesta semana, a ministra sa da Igualdade entre Mulheres e Homens, Aurore Bergé, reconheceu o atraso, classificando a demora de "inaceitável". O governo se engajou a colocar o projeto em prática "até o final do ano".
A promessa é que o sistema de saúde da França reembolsará os gastos com dois tipos de produtos de higiene menstrual: os coletores e as calcinhas absorventes reutilizáveis. A gratuidade valerá para mulheres de até 26 anos e em situação precária. Até o momento, o governo não comunicou as modalidades desse reembolso.