Inversão dos polos da Terra pode estar próxima; evento já remodelou humanos

A inversão dos polos magnéticos da Terra pode acontecer antes e mais rápido do que se esperava, segundo um estudo recente. O fenômeno pode desencadear desde pequenas interferências até grandes mudanças no planeta.
O que aconteceu
Estudo aponta velocidade surpreendente na última inversão. A pesquisa, conduzida por cientistas da China e de Taiwan, foi publicada em 2018 na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" e indica que a última mudança completa no magnetismo terrestre ocorreu em apenas 144 anos — 30 vezes mais rápido do que os cálculos anteriores estimavam.
O estudo mostrou também sinais claros de que uma nova inversão pode estar próxima. Os cientistas observaram que o campo magnético terrestre está cerca de 10% mais fraco em comparação com os registros feitos há 175 anos, o que pode indicar uma nova inversão em curso.
Além disso, os polos magnéticos estão se movendo de maneira bastante rápida. O Polo Norte se localiza atualmente no gelo polar ao norte do Canadá. Entretanto, a cada ano é registrada uma mudança de cerca de 50 quilômetros em direção à Sibéria, na Rússia.
As evidências vêm das profundezas das cavernas. Os cientistas analisaram estalagmites em cavernas calcárias para entender essas variações. Algumas ainda conservam propriedades magnéticas, o que permite calcular sua idade e rastrear alterações no campo da Terra.
A reversão está atrasada, segundo o padrão histórico. Normalmente, essas inversões ocorrem a cada 200 mil a 300 mil anos. No entanto, a última mudança completa aconteceu há cerca de 780 mil anos, o que reforça a ideia de que já estamos além do intervalo médio.
A origem do fenômeno está no núcleo do planeta. A barreira magnética que envolve o planeta, chamada de magnetosfera terrestre, origina-se da agitação de metal quente e derretido em torno do núcleo do ferro. Esse movimento constante de líquido gera eletricidade, que produz as linhas de campo magnético que se curvam em torno do planeta, segundo a Nasa.
O campo magnético da Terra nos protege. Ele funciona como um escudo invisível, defendendo a Terra da radiação solar. O lado do planeta que está voltado para o sol é bombardeado constantemente por ventos solares, que poderiam simplesmente "soprar" a atmosfera para fora do planeta, como ocorreu em Marte. É o campo magnético que impede que isso ocorra.
Quais os efeitos da inversão dos polos?
Os principais efeitos da inversão poderiam ser observados nos satélites. Apesar de, possivelmente, não representarem risco direto à humanidade, essas alterações podem causar falhas em satélites, que ficam mais vulneráveis devido ao enfraquecimento do campo magnético terrestre.
Eventos temporários já têm ocorrido com frequência. Desde a última inversão, a Terra ou por várias "excursões" geomagnéticas — mudanças temporárias que não resultam em uma inversão definitiva, mas sinalizam instabilidade no campo magnético.
Excursões são mais comuns do que se pensava. O cientista Jürgen Matzka afirma que essas excursões são agora detectadas com uma frequência dez vezes maior, o que torna difícil diferenciá-las de inversões verdadeiras no início do processo.
Excursão há 42 mil anos trouxe caos à Terra
Uma inversão incompleta há dezenas de milênios trouxe uma mudança climática em escala global. Segundo um estudo publicado em 2021 na revista "Science", as alterações provocadas pelo fenômeno causaram extinções e remodelou o comportamento humano.
O processo de inversão teria durado cerca de mil anos. Durante esse período, o campo magnético da Terra ficou mais fraco que o normal e a exposição à radiação cósmica solar e cósmica afetou a atmosfera o suficiente para impactar totalmente o clima.
O estudo descobriu que o campo magnético operava em cerca de 6% de sua força normal. Isso poderia levar a grandes impactos climáticos "através da radiação ionizante, danificando fortemente a camada de ozônio, permitindo a entrada de UV (raios ultravioletas) e alterando as formas como o sol a energia foi absorvida pela atmosfera", explicou Alan Cooper, professor emérito do Departamento de Geologia da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, à "Science", na época da publicação do estudo.
A mudança, então, pode ter causado uma verdadeira bagunça no clima terrestre. Uma atmosfera fortemente ionizada pode ter gerado auroras brilhantes em todo o mundo e produzido tempestades com raios frequentes, fazendo com que o céu parecesse "algo semelhante a um filme de desastre", disse Cooper.
O caos climático também teria mudado os hábitos humanos. Segundo o estudo, o nível elevado de UV pode ter levado os humanos a buscar abrigo em cavernas e ainda ter forçado as pessoas a protegerem sua pele com "minerais bloqueadores do sol".
Isso pode ter desencadeado a extinção dos neandertais. A excursão está muito próxima no tempo de diversas limites arqueológicos importantes. Isso inclui a extinção dos neandertais, que foi recalibrada para ocorrer entre 40,9 e 40,5 mil anos atrás.
A pesquisa foi feita com árvores Kauri preservadas em pântanos do norte da Nova Zelândia. Foram cortadas seções transversais para a observação das mudanças nos níveis de carbono 14, o que revelou níveis elevados desse carbono quando o campo magnético estava enfraquecendo.
* Com informações de reportagens publicadas em 21/08/2018 e 25/11/2024.